sexta-feira, 17 de julho de 2009

I just died in your arms tonight

Quando eu morrer, deixa que seja nos teus braços. Assim, tudo parece mais calmo e mais doce.

Hoje, o vento disse-me que vinha de longe e que ia para longe. Gritava, implorava que o deixassem ir, que o deixassem passar e seguir o seu caminho. Implorava que o deixassem ir livremente. E assim ia. Avançava. Avançava no seu eterno avançar, enquanto soprava. E ainda sopra, nas frestas das janelas, nas árvores que permanecem toda a noite em vigília, nas folhas constantemente importunadas, nesses becos nocturnos que são acordados pelo seu passar, nessa vida que não dorme, enquanto ele todo não passar, nesse seu passar que pretende ser solene e obstinado.

O vento passa e traz consigo recordações de um tempo passado, promessas de um tempo que não virá e memórias daquilo que há-de vir. Acima de tudo, o vento traz aquilo que o seu passar nos deixa no momento presente. Traz a calma de saber que chegámos até aqui e a inquietação de não saber para onde vamos nem até onde chegaremos. O vento traz-nos o medo de não sabermos para onde ele nos leva, nesse seu passar que é, de todos, o mais solene.

O vento dá-nos a esperança de seguirmos com a força e determinação do seu passar solene. Dá-nos o ímpeto de avançarmos com ele e seguirmos até onde não haverá mais nada senão... o próprio vento? Leva-nos até à mais alta e suprema instância do nosso ser, local de concretização total e pleno (re)encontro. Oh, inocência dos dias que correm, o vento leva-nos ao local que não existe! Ou que existe só para que saibamos que nunca o vamos encontrar, porque não está ao nosso alcance encontrá-lo.

Mas o vento traz também uma inevitável sensação de vacilar. O peso dos dias que começa a fazer-se sentir, a força desse soprar eterno que nos leva e traz e passa e vive e deixa e fica e vai. E sopra sempre, sempre, sempre e mais e mais alto e mais forte... E a força das pernas que começa a faltar. E o viajante que vacila no seu propósito... A sensação do peso que esmaga o equilíbrio do ser. Cair. Passar. Ficar.

Se eu morrer, deixa que seja nos teus braços. Assim, tudo parece mais calmo e mais doce.

Se eu ficar, deixa que passe pela tua mão. Assim, tudo parece mais calmo e mais doce.

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