quarta-feira, 15 de julho de 2009

Odes de Reis...a Ricardo

Para ser grande, sê inteiro: nada

Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és

No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda

Brilha, porque alta vive.


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Não quero as oferendas

Com que fingis, sinceros,

Dar-me os dons que me dais.

Dais-me o que perderei,

Chorando-o, duas vezes,

Por vosso e meu, perdido.


Antes mo prometais

Sem mo dardes, que a perda

Será mais na esperança

Que na recordação.


Não terei mais desgosto

Que o contínuo da vida,

Vendo que com os dias

Tarda o que espera, e é nada.


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Quer pouco, terás tudo.

Quer nada: serás livre.

O mesmo amor que tenham

Por nós, quer-nos, oprime-nos.


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Não só quem nos odeia ou nos inveja
Nos limita e oprime; quem nos ama
Não menos nos limita.
Que os deuses me concedam que, despido

De afectos, tenha a fria liberdade
Dos píncaros sem nada.
Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada
É livre; quem não tem, e não deseja,
Homem, é igual aos deuses.


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Segue o teu destino,

Rega as tuas plantas,

Ama as tuas rosas.

O resto é a sombra

De árvores alheias.


A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.


Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.


Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.


Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.


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Aguardo, equânime, o que não conheço -
Meu futuro e o de tudo.

No fim tudo será silêncio, salvo

Onde o mar banhar nada.

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