domingo, 21 de junho de 2009

Até ao fim

Sim, foi longo. Muito mais do que poderíamos imaginar, quando nos lançámos por esse caminho de uma forma quase tão inocente quanto louca e descomprometida. Apenas nos comprometemos a chegar um dia. Cedo ou tarde. Desse por onde desse, fosse qual fosse o preço a pagar por esse momento ou o que tivesses de enfrentar, tu ias até ao fim, mesmo que esse fim existisse apenas para além do mundo real, do que podemos ver e sentir, saber ou conhecer, do que pudesse ser ou não-ser, do espaço ou do tempo, do espaço-tempo, da matéria ou do inteligível. Porque tu vias para além do inteligível e decidiste ir lá um dia. E partimos, porque a vida só tem sentido quando… Partimos. Vamos. Somos.

E eu ia contigo, eu ia sempre contigo. E acompanhar-te-ia até ao fim da tua vida. Até ao fim da minha vida. Porque eras tu, porque éramos nós, um fim comum, um objectivo em comunhão. E acreditávamos, acima de tudo, acreditávamos da forma mais inocente, que, apesar de todas derrotas, de todo o cansaço, dos momentos de mais profunda solidão e vazio, que havíamos de chegar um dia, porque estávamos nisto juntos e só assim tudo poderia ter sentido.

E jurámos chegar um dia, porque a vida é de quem luta até ao fim, de quem sonha até ao último momento com todo o seu fervor, de quem avança, contra todas as probabilidades e sensatez. E jurámos manter-nos sempre firmes, desse por onde desse, acontecesse o que acontecesse. O tempo, o espaço, os conceitos, os aromas, as memórias, as palavras, os sons, o riso, as vozes, as lágrimas, as conquistas, as derrotas, os olhares, cada passo, cada inspirar, cada arrepio, cada suspiro vale por tudo aquilo que nos traz e que nos deixa de mais profundo nesta caminhada. E por tudo isto valeria a pena. Havia de valer a pena, mesmo que não o soubéssemos ainda. Porque nós acreditávamos. Acima de tudo, nós sempre acreditámos no dia de amanhã, mesmo quando a véspera nos fizera duvidar profundamente das nossas crenças, dos nossos propósitos, da nossa missão.

Só nunca pudemos imaginar que todos os dias acabariam antes de chegar aquele momento que nos propusemos alcançar. Lembras-te? O nosso dia, o nosso momento, aquele que nos pertenceria por direito, acima de tudo e acima de qualquer outro dia... Pelo suor das longas caminhadas, pela exaustão de todos dias que se prolongaram sistematicamente pelas madrugadas. Longe das ausências, longe das presenças, dos olhares de cumplicidade, da saudade, da nostalgia daquilo que ficou para trás, da ansiedade daquilo que há-de vir e que por tanto esperaste. E que por tanto lutaste.

Acabou-se, porque nós jurámos chegar um dia, mas o dia nunca chegou, apesar de termos continuado sempre firmes, como havíamos prometido. Quanto a nós, nós avançámos como havíamos jurado no momento de deixar tudo para trás, de abdicar de tudo o que restava, além desta estrada que se prolonga muito para além do horizonte. Tu e eu. No momento de sentir o peso da melancolia nas lágrimas que correram no momento da despedida e que nos viram partir.

Porque nós fomos até ao fim, mas o dia, esse, nunca chegou. E onde chegámos nós afinal, depois de tudo?

Nós continuamos aqui. Até ao fim, sim, mas até quando?

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