sábado, 27 de junho de 2009

Prece

Ó vós, vis habitantes do deserto escaldante da vida. Vós, ignóbeis seres do crepúsculo desta inútil existência, escutai. Vós, sim, vós, meus irmãos, ouvi a minha prece, que ela é só uma e uma só será. E a uma só voz.

Atentai ao que prometeis e evitai essas juras de rosas e campos de flores de ébano em prados sem fim, se mais não tendes que o Inferno para me dar. O Inferno, sim, essa que foi para mim a maior dor jamais sentida, escondida, porém, sob esse vosso véu da mentira, o impiedoso manto cruel dessa tão inebriante arte de iludir, que acaba por nos lançar no mais profundo desespero. Jamais façais juras de um Céu sem fim, promessas de um tal soberbamente infinito Paraíso, se nada mais tendes para mim do que esse eterno fogo escaldante de Hades. Sim, este arder sem fim na angústia do inalcançável. Ou daquilo que vós tornastes para mim inalcançável.

É quente, o Inferno... Sabeis vós do que vos falo? Este lugar onde me encerrastes com vossas juras de sonhos, aromas e melodias, pedaços de perfeição, que se transformaram em noites de amargura, quais punhais, desses que rasgam e dilaceram impiedosamente o mais íntimo, puro e profundo de um ser que mais não quer do que a vida por que lutou. A vida, sabeis vós do que se trata? E o sonho... Conheceis?

É quente, este Inferno sem fim. Escaldante...

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